quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O Retrato



(271)
Vale a pena nessa vida
tirar retrato na mocidade
para deixar, de lembrança
pra posteridade?
Vale a pena
marcar a vida
a sua passagem
com fotografia?
Vale a pena
retrato deixar
para que bisnetos
venham anos amar?
Vale a pena
pela fotografia
lerem nosso passado
nosso dia a dia?
Vale a pena
ser muito lembrada
sempre que o retrato
for sempre tocado?
Vale a pena deixar
seu retrato no mundo
ou melhor seria
adormecer no profundo?
Vale a pena morrer
e seu rosto não deixar
pra que as novas gerações
nada tenham a recordar.
Como seria bom
se eu tivesse conhecido
todos os meus ancestrais
nem que fosse
por retrato
era bom até demais;
e guardasse com carinho
seus semblantes
suas vidas
suas lutas
e desditas;
suas glórias
suas honras
seus momentos
de vitórias
e também
de alegrias
e pudesse
recordá-los
mesmo sem conhecê-los
através do tempo
e da fotografia
revivendo cada um
no seu longo
dia a dia!


Alina Castelo Branco 
(17/12/1976) 

Decepção



(238)

Tristeza infinita
num dia triste
não é uma coisa
muito bonita;
de vez em quando
uma decepção
um grande aperto
no coração
uma dor
dentro do peito
por ver na vida
tanto desamor
e desrespeito.

Alina Castelo Branco
(12/11/1976) 


Atmosfera Rosa


(236)
Tive um sonho lindo
todo cor de rosa;
sonho colorido
é um bom sinal
e como eu subia
desbragadamente
uma escada enorme
alta, tão imensa
parecia até
que não tinha fim
mas que de repente
eis que aparecia
bem no alto
acima de mim
algo majestoso
uma atmosfera
toda cor de rosa
com belas imagens
envolvidas nela;
e eu deslumbrada
e bem agarrada
aquela escada
ficava perplexa
e bem perturbada;
o que eu vi
num sonho colorido
lindo de morrer,
nunca, jamais,
irei esquecer.
Alina Castelo Branco
(27/10/1976)



Toró


(234)
Caiu um toró na minha vida
uma chuva forte
um temporal
desceu uma avalanche
de muitas toneladas
que me derrubou
e me arrasou afinal.
Depois de tudo
já obrigada
debaixo de um teto
já protegida
e recuperada;
nesse abrigo
que há sete anos
dentro dele, vivo
para esperar 
que esse toró
venha a passar
estou aguardando
pacientemente
estou lutando 
com unhas e dentes.

A chuva foi grossa
muito mais grossa
do que eu a via;
quase acabou
com a minha fé
e minha alegria;
aqui estou eu
mais firme que nunca
e a minha fé
que enfraqueceu;
a minha alegria 
que tinha sumido
com medo do tempo
que tinha virado
e se enfurecido;
essa fé cresceu
e triplicou
me ajudou a vencer
e nunca mais
nunca mais
alegria faltou.
Alina Castelo Branco
(29/10/1976)



Revolta


(450)
I
Se você tem mãe, tem tudo;
você é feliz, eu lhe garanto
porque é triste anoitecer
sem ter um beijo
nem um carinho
sem ter o prazer
de ver o rosto
daquela amiga
que dia e noite
zela contente, 
pelos seus filhos.
II
Eu falo assim
por não a ter;
é diferente, é um vazio,
vazio imenso,
que sinto sempre
mas eu confesso
que bem entendo.
III
Às vezes vejo
muitas pessoas
chutando as mães;
fico pensando
como é engraçado
o ser humano!
Mãe só é uma,
o mais se pode
ter à vontade
e  entretanto
essas pessoas
às vezes esquecem
desse detalhe tão importante
e vão em frente
os filhos maus
mordendo mão
e magoando o ente
que lhes deu o pão
e o seus sustentos
para crescerem fortes, 
instruídos e independentes.

IV
Uma vez já feitos
pra vencer na vida,
pra que serve a mãe?
Vamos jogar fora,
ela só atrapalha,
já está velhinha,
pra que serve agora
só pra dar trabalho?
Pra gastar dinheiro?
Pra roubar o tempo?
Pra dizer besteiras?...
V
Só não se recordam
que ela tem no peito
um coração pulsando
que ama, que sofre
que vive chorando
por aquele filho
que é tão perverso,
que é tão ingrato
mas que é seu filho
carne da sua carne,
sangue do seu sangue
vida da sua vida. 
VI
Se eu tivesse mãe,
não teria coragem
para magoá-la;
a pior qualidade
de qualquer pessoa
é ela ser ingrata;
não iria esquecer
que recebi a vida
daquele grande ser
e mesmo um dia
quando já velhinha
doente, irritada
e muito cansada,
saberia entender
que a máquina humana
também se acaba,
mas dentro dela
tem um coração
que ainda bate.
VII
É muito triste
por vê-la sumindo
vendo uma vida, se extinguindo
eu a ampararia
e a cobriria
com o meu carinho,
aquela amiga
que pra mim foi tudo
que tanto me amou
para que eu pudesse
ser mãe um dia
e ter dos meus filhos
muito carinho,
muita ternura
e muito amor!
Alina Castelo Branco 
(01/06/1976)