quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Revolta


(450)
I
Se você tem mãe, tem tudo;
você é feliz, eu lhe garanto
porque é triste anoitecer
sem ter um beijo
nem um carinho
sem ter o prazer
de ver o rosto
daquela amiga
que dia e noite
zela contente, 
pelos seus filhos.
II
Eu falo assim
por não a ter;
é diferente, é um vazio,
vazio imenso,
que sinto sempre
mas eu confesso
que bem entendo.
III
Às vezes vejo
muitas pessoas
chutando as mães;
fico pensando
como é engraçado
o ser humano!
Mãe só é uma,
o mais se pode
ter à vontade
e  entretanto
essas pessoas
às vezes esquecem
desse detalhe tão importante
e vão em frente
os filhos maus
mordendo mão
e magoando o ente
que lhes deu o pão
e o seus sustentos
para crescerem fortes, 
instruídos e independentes.

IV
Uma vez já feitos
pra vencer na vida,
pra que serve a mãe?
Vamos jogar fora,
ela só atrapalha,
já está velhinha,
pra que serve agora
só pra dar trabalho?
Pra gastar dinheiro?
Pra roubar o tempo?
Pra dizer besteiras?...
V
Só não se recordam
que ela tem no peito
um coração pulsando
que ama, que sofre
que vive chorando
por aquele filho
que é tão perverso,
que é tão ingrato
mas que é seu filho
carne da sua carne,
sangue do seu sangue
vida da sua vida. 
VI
Se eu tivesse mãe,
não teria coragem
para magoá-la;
a pior qualidade
de qualquer pessoa
é ela ser ingrata;
não iria esquecer
que recebi a vida
daquele grande ser
e mesmo um dia
quando já velhinha
doente, irritada
e muito cansada,
saberia entender
que a máquina humana
também se acaba,
mas dentro dela
tem um coração
que ainda bate.
VII
É muito triste
por vê-la sumindo
vendo uma vida, se extinguindo
eu a ampararia
e a cobriria
com o meu carinho,
aquela amiga
que pra mim foi tudo
que tanto me amou
para que eu pudesse
ser mãe um dia
e ter dos meus filhos
muito carinho,
muita ternura
e muito amor!
Alina Castelo Branco 
(01/06/1976)



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