quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Meu Coração


(127)
Converso muito
comigo mesma,
pergunto-me,
analiso-me,
reflito bem
todos os passos
que tenho que dar;
será que virei
uma pequena
mas valiosa
máquina de calcular?
Penso bastante,
penso mil vezes
e tomo depois
uma resolução,
consulto também
o meu grande amigo,
meu coração;
que é muito fraco
e sentimental,
perdoa tudo
releva, afinal.
Mas assim mesmo
gosto de seguir
sua orientação
e sempre ouvir
o que quer, então.
Vou tomar cuidado
sempre, sempre
com o meu coração
antes de tomar
uma decisão
porque é muito fraco
é mesmo bobão!...  
Alina Castelo Branco 
(17/09/1976) 





Emaranhado


(117)
Num emaranhado
de coisas vivas
e de coisas mortas
entrelaçadas
num elo só,
nada caminha,
nada flutua
nada se solta
dos elos fortes
que ligam o céu
a terra, ao mar,
dentro da esfera
espetacular
que move o ar.
Preso aos elos
dessa corrente,
grande, imensa,
até, gigantesca
está a humanidade
com suas figuras
pequenas e grotescas.
Alina Castelo Branco 
(30/01/1979) 




A Natureza


(103)

Se alguém disser
que você é bonita
fique feliz
não se envaideça,
pois a beleza
física e humana
é passageira.

Beleza eterna
é da natureza

com seus matizes,
com suas matas,
suas florestas,
com os seus rios
e o seu lagos;
com os seus vales
e suas montanhas,
suas planícies
e seus planaltos;
com os seus mares e oceanos,
o colorido de suas ondas
e o furor estonteante
que nos espanta. 
Alina Castelo Branco
(10/02/1976)



Tenho que rir


(424)
Acho uma graça
nas grandes cidades
onde vivem pessoas,
tão, tão sofridas e tão angustiadas,
com seus martírios
e suas desilusões,
vão chantageando
e ludibriando
tanta gente boa
tantos corações,
procurando encher
almas tão vazias
cheias de tédio
e sem alegrias...
Vão passando
sempre, pelas ruas
essas criaturas,
ocas, sem luz,
com muita roupa
apenas por fora,
e pra Deus, nuas
como frias e desertas
pela chuva constante
permanecem as ruas.
Alina Castelo Branco
05/10/1976) 




Lançamento


(288)
Em 1977

quando meu livro, lançar

é algo de dentro
que para fora
vai estourar; 
vou jogar pro alto 
pelo mundo inteiro 
tudo que quero 
que o povo saiba 
que o povo queira; 
talvez demore 
a acontecer 
não tem problema 
sei esperar 
pois ninguém 
melhor que eu 
entende mais 
do que é sofrer 
mas como ele 
é tão necessário 
para que eu faça 
minhas poesias; 
bendito seja 
todo esse sofrer 
que me tem dado 
tantas alegrias. 
Alina Castelo Branco. 
(28/12/1976)



Menina Sapeca


(56)
Menina sapeca
metida a mulher
com dezoito anos
ou um pouco mais
o que é que você,
menina sapeca
o que é que quer;
provar a todos
que existe no mundo
que você é mulher?
Isso já sabemos,
mas o que se quer
de uma menina
jovem, bonita
e muito inteligente
é que reconheça
sua pouca idade
e procure sempre
ter mais juízo
e maturidade.
Alina Castelo Branco 
(20/08/1976) 



O Tempo Corre...


(589)
Quando ela era pequenina 
lembro-me tanto ainda! 
Sempre usava um chapeuzinho 
quer no sol ou na tarde finda. 
Se o vestido era azul ou rosa
o chapéu era da mesma cor.
Como ela ficava formosa
parecia uma roseira em flor!
Como é bom ver essa sapeca
hoje, crescida, dona do seu lar;
e como gostava de boneca!
E fico a ver e a recordar
o tempo correr, o tempo passar
fazendo o possível para não chorar.
Alina Castelo Branco 
(28/07/1976)

Onde Nasci


(154)
Quanta saudade da minha terra
onde vivi com tanta alegria;
minha infância e juventude
hoje, eu transformo em poesia.

Aquelas praças tão bem cuidadas
que mais parecem jardins floridos
onde brinquei e muito passei
hoje, relembro dias tão queridos.

Há muitos anos que não as vejo
e em mim tudo dói, danadamente
nesse momento só tenho um desejo;

de ir a Maceió seja como for
para matar de vez essa saudade
e acabar de vez com essa dor!
Alina Castelo Branco 
(14/09/1976)