sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Pretinho do Morro


(198)
Aquele moleque
tão pretinho
lá no morro
escondidinho
da humanidade
correndo descalço
com o vento forte
a roçar-lhe o rosto
aquele moleque
tão pretinho
como o café
feito quentinho
com o riso franco
e os dentes bonitos
e tão brancos
ele é feliz, gente,
pode correr
descalço ou nu
pode gritar
bola jogar
brigar com “b”
ou brigar com “a”
porque o negrinho
esperto e feliz
faz o que quer
e não sabe o que diz;
ele só tem
a noite e o dia
e o amor e o amparo
da Virgem Maria;
não tem dinheiro,
não tem fama
não tem comida
e nem tem cama
mas tem uma coisa
muito importante
no dia a dia
tem liberdade
de correr o morro
de cima a baixo
do jeito que quiser
soltar papagaio
sentir a brisa
e o chão no pé...
II
Será que é feliz
mesmo sem nada
o moleque do morro
que sacode o samba
que dança e canta
com a barriga
às vezes vazia?...
É feliz sim
porque tem alegria!...
Alina Castelo Branco 
(22/09/1976) 




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