quarta-feira, 15 de outubro de 2014

SUZI


(464)
 I
Todos os dias ela passa
voando alto e vem buscar
seu alimento pra seu sustento
e sempre volta toda contente
para o seu ninho
que fica perto, bem pertinho
de onde vivo e dá pra ver
bem direitinho.
II
Começou tudo, quando uma dia
ela chegou, devagarzinho,
com muito medo
no meu humilde apartamento;
tivemos por ela, muito carinho
pão lhe demos e daí pra
frente, ela voltou todos os dias
pois já sabia que ia ter
o que queria pra sobreviver.
III
Suzi é o nome dessa pombinha
que já é nossa de coração
e já faz parte da nossa vida
tanto é verdade que no dia
que ela não vem
todos de casa
já sentem falta
e preocupam-se, ficam aflitos
e perguntam-me:
IV
O que está havendo?
Por que a Suzi não vem correndo
buscar seu pão, seu alimento
que guardamos pra, vê-la contente?
Será que ela está doente?...
V
É tão sublime a gente ter
alguma coisa tão espontânea
que conseguimos de uma maneira
tão relevante
sem precisar, acorrentar
ou escravizar aquela pomba!
VI
Hoje me lembro
que no começo
Suzi era muito desconfiada;
qualquer barulho a espantava;
depois que viu e que sentiu
que só queríamos
admirá-la e ajudá-la
ela aprendeu, a confiar
e hoje passeia, tranquilamente,
dentro do nosso apartamento
vai da varanda até a cozinha
e come da mão da minha filhinha
certa e convicta de que
ninguém a tocará
e nem tão pouco a maltratará;
quando ela chega
ficamos felizes por vê-la assim
tão gordinha, tão branquinha,
e procuramos ficar quietinhos
para que ela possa comer devagarzinho.
VII
Nesse momento todos voltam-se
para olhar aquele ser tão pequenino;
logo depois de saciada
ela regressa para o seu ninho;
eu fico triste, fico a cismar;
aquela pomba é mais feliz
do que a gente
pois ela tem a liberdade
que nós não temos;
apesar de ser tão pequenina
é muito capaz
de viver sozinha
e andar por onde bem lhe aprouver
pois ela pode voar
pra onde ela quiser;
rasgar o véu da escravidão
e ver o céu bem pertinho
em toda a sua vasta amplidão.
Alina Castelo Branco 
(16/06/1976)
(Original) 



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